O espaço existente definia-se através de duas grandes salas e um grande hall, cuja função inicial estava associada a eventos corporativos. No novo programa estipulado havia a necessidade de criar uma sala polivalente – ampla e versátil, que permitisse diferentes usos, uma sala de leitura – dedicada ao apoio escolar, visionamento de filmes, leitura de livros, uso de material informático didáctico; uma sala de artes plásticas – cuja principal função seriam os trabalhos manuais e expressão visual; e por último uma sala mais lúdica, vocacionada para a diversão e jogos motricionais. Com base nestas necessidades programáticas, adaptaram-se os espaços mantendo ao máximo as estruturas existentes, acabando por se adoptar uma lógica de adição de elementos novos – sejam estes novas formas, cores, texturas, elementos gráficos – que pudessem estar carregados de um simbolismo que permitisse a quem entrasse neste espaço que fosse transportado para uma realidade onírica.
Este desafio que colocámos a nós mesmos, levou-nos a deambular e a fugir de lugares comuns, obrigou-nos a desmaterializar algumas noções de equilíbrio plástico, de forma a podermos nos aproximar dum desprendimento mental que permitisse criar um espaço acima de tudo lúdico e distinto para crianças de palmo e meio.
Cada espaço novo idealizado tem características únicas, conta uma história diferente, é um destino diferente nesta viagem. As formas criadas conjugam-se com cores surpreendentes, que contextualizam os espaços de forma particular. O corredor é o espaço aglutinador, que comunica com todas as salas e as agrega na linguagem espacial e formal. Os diferentes arcos que o caracterizam simbolizam passagens, uma galeria para pequenas princesas e pequenos reis desfilarem, servindo também de montra para as diferentes salas. Na Sala de Leitura a criação de um pequeno anfiteatro permite que as crianças se juntem em torno de um enorme plano preto em tinta de ardósia que se transforma numa enorme tela, para histórias e lendas. Ou somente para se sentarem de forma intuitiva em redor de uma sessão de cinema. A Sala de Artes Plásticas dá primazia a formas curvas e orgânicas e a cores vibrantes, de modo a estimular a expressão visual. O enorme azul do tecto com apontamentos de candeeiros lembra um céu estrelado, enquanto as paredes furadas escondem esconderijos e efeitos visuais únicos. Na Sala da Brincadeira, o tapete verde dilui a superfície do chão com a parede que por sua vez é embrulhado num jogo de planos inclinados coloridos que desconstroem o tecto. A última sala, ao fundo deste corredor mágico, assume-se como o espaço mais versátil, no qual foi definida uma área livre e um espaço lúdico que se distingue pela montanha tétrica de cores e um palco para pequenas encenações teatrais.
Porém o mais gratificante estará por chegar… o tempo de verificar como as diferentes crianças se adaptam e apropriam este espaço como sendo delas, constatar como é que este mundo onírico criado por adultos pode caber no imaginário infantil. No fim esperamos que este espaço novo que renasceu com cores alegres, formas inusitadas e características peculiares possa despontar nos mais novos toda a sua potencialidade.