A topografia acidentada do lote, obrigou a criar um edifício com vários níveis, fazendo assim a transição entre a cota do logradouro a tardoz e a frente urbana do lote. Constatada a impossibilidade de relação física entre o piso social da casa – o piso que comunica com a entrada do lote – e o logradouro, optámos por desenvolver uma solução com pátio interior, que permite a introdução de elementos de vegetação no seio da vivência da casa, suprimindo a ausência de relação com a área exterior do logradouro; potenciar a introdução de luz natural no interior desta casa, resultando numa casa mais introvertida e, assim, abdicando conscientemente de relações visuais com a envolvente urbana pouco caracterizada; e, por último, dispor de uma área exterior protegida dos fortes ventos que se fazem sentir neste local, permitindo que este espaço tenha uma utilização regular, ampliando a experiência da vivência interior da vossa casa, que se projecta tridimensionalmente nas relações entre todos os pisos.
Paralelamente, foi feita a leitura do sistema de vistas e a hierarquização das mesmas. A grande vantagem deste lote, é a sua posição geográfica, que permite usufruir de um horizonte visual imenso, desde o estuário do Tejo ao Cabo Espichel. Certos de que o quadrante Sul é o que desfruta das vistas mais impactantes, e consequentemente da melhor exposição solar, propomos um corte, uma subtração no volume, que enfatiza e enquadrada toda esta vista para o interior da casa. Este gesto aglutinador do projecto, estrutura toda a casa, e define a regra para as restantes aberturas para o exterior, condicionadas, atraídas, pela procura do quadrante sul, evitando relações visuais directas com os lotes contíguos. A única excepção encontra-se no alçado frontal, contudo, mesmo essa abertura procura enquadrar o Nascente e o campo visual que a Rua Poeta José Régio disfruta.
De modo a dissimular os 5 pisos que compõem esta casa, optámos por diferentes estratégias a tardoz e na frente de lote. A tardoz propomos uma materialidade distinta no embasamento da casa ao nível da vertente tardoz, acentuando uma quebra na continuidade da fachada de modo a criar a aparência de que a casa levita em 3 pisos. Este gesto, além do impacto na percepção da volumetria da casa, permitiu-nos aumentar a área de logradouro utilizável, escavando o volume em prole da criação de um espaço de lazer sombreado e da colocação da piscina.
No interior, a proposta foi desenvolvida em torno do pátio, assim como do envidraçado que projecta a vivência social da casa para o horizonte infinito. Ao entrarmos na casa procuramos surpreender quem vos visita, com um duplo pé direito sobre o hall de entrada e com o vislumbre do pátio, ocultando, por outro lado, a vista para o exterior. Vista esta que se assume como uma segunda revelação, mas também como o expoente máximo. Esta hierarquização de momentos, e de revelação sequencial, apresenta-se como uma característica identitária na vivência do interior da casa. No piso de entrada procurámos dar resposta ao vosso programa, colocando um quarto/escritório que pudesse usufruir de uma instalação sanitária, e a disposição da sala e cozinha hierarquizadas entre si, mas que estabelecessem uma comunicação fluida.
Um dos grandes desafios deste projecto radicava no tipo de vivência que este lote permitiria, não só na sua área exterior mas principalmente na relação do exterior com o interior. E foi em torno deste desafio que muitas das premissas do projecto foram dispostas: a busca de uma solução que permitisse uma casa que apesar da distância ao seu logradouro, usufrui-se da existência de uma área exterior protegida, com privacidade, e em estreita relação com o interior. Por outro lado, procurámos reduzir o impacto da circulação com o logradouro e potenciar o aproveitamento da área disponível, procurando as valências que tanto desejavam.
Em suma, esta é uma casa que visa uma vivência mais recolhida, voltada para dentro, mas em torno de um interior onde os limites se esbatem, onde transborda luz, horizonte e vegetação.