Contudo, uma intervenção com este nível de profundidade é também uma oportunidade de conferir uma nova vida a um edifício que merece ser dignificado. Procurar uma certa modernidade através da utilização de elementos recorrentes do dito “português suave”, traduz a nossa busca incessante por uma linguagem muito própria, um gesto que pudesse conferir uma identidade única a esta casa.
Acreditamos que esta casa é uma espécie de caixa de Pandora. Vai-se revelando, à medida que a percorremos, com momentos muito simples e delicados, contrastando com espaços que nos surpreendem pela forma como se relacionam connosco, convidando-nos a ficar. Na fachada principal, os elementos mais característicos existentes são mantidos, revelando pouco sobre a nova intervenção.
O alçado lateral reflete uma transição entre as proporções originais da casa – na fachada principal –, e a nova fachada a tardoz, sendo a fachada lateral o momento em que ambas as linguagens se fundem. A tardoz, a intervenção revela-se claramente sem timidez. A fachada original é amplamente rasgada, dando lugar a um grande envidraçado que irá permitir abrir toda a casa para o exterior. Procurámos não só conferir mais área útil à principal zona social da casa, mas sobretudo permitir que esta se prolongue para o exterior.
O arco é um elemento que nos fascina e muito presente na arquitetura do estilo português suave, cujo nome justifica uma intenção em procurar um equilíbrio entre uma arquitetura tradicional e moderna. Esse equilíbrio é igualmente algo que procurámos muito neste projeto. A adição proposta a tardoz, através da introdução de meios arcos, permitiu-nos criar uma zona exterior coberta e um terraço superior, abraçando o limoeiro existente que fizemos questão de tentar preservar.